Crianças superestimuladas?

Por Adriana Alencar

Fotografia: Sandrine Castellan

Esta semana fomos a uma loja enorme que tem tudo o que você possa imaginar para uma criança, desde remédios até os últimos (e caríssimos) lançamentos em brinquedos, passando por roupas e itens de decoração de quartos infantis. Voltando daquele universo, comecei a comparar os meus dois filhos e a sua evolução: o primeiro foi criado exatamente como esse tipo de loja prega, com muitos brinquedos educativos, com a mamãe ensinando a chacoalhar os que faziam barulho e onde se apertavam os botões da música. Ele engatinhou aos 12 meses e andou apenas com 15 e, até hoje, a sua coordenação motora não é lá das melhores. O segundo veio em um ambiente diferente, com um irmão para a mamãe cuidar além dele e no período em que mudamos para uma casa grande, em que eu fazia todo o serviço doméstico, já que empregada é artigo de luxo por aqui. Esse engatinhou com 10 meses e agora com 13 já está dando sinais de que irá caminhar logo. Não quer nem olhar os brinquedos supostamente adequados à idade dele e brinca junto com o irmão, com os brinquedos do irmão!

Uma conhecida minha reclamava que seu filho não dormia bem e acordava gritando no meio da noite. Perguntei como era a rotina da criança: estímulo por todos os lados, brinquedos educativos, vídeos, passeios, mãe deitando no chão para brincar com ele...Pode parecer excelente mas, na realidade, não era. Os pesadelos simplesmente sumiram quando ela substituiu tudo isso por 3h à tarde em uma escolinha.

Todas queremos ser boas mães e darmos condições ótimas para que nossos filhos cresçam de modo saudável e desenvolvam todas as suas potencialidades. Mas o bom senso é sempre aconselhável: a hiperestimulação pode ser prejudicial para a criança, estressá-la até. E, segundo o que me falaram três professoras do primário, a diferença entre crianças que frequentaram escolinhas e as que não o fizeram desaparece nos primeiros meses, pois ambos atingem o mesmo nível.

O QI é herdado, e não pode ser aumentado pelo estímulo, apenas desenvolvido em plenitude. Assim, se o seu filho for normal, comprar mais brinquedos educativos e inscrevê-lo em mais atividades não aumentará o seu QI final de 100, se for o máximo de sua capacidade genética, para 120. É preciso compreender também que a inteligência pode ser prejudicial à criança se não for acompanhada de uma orientação emocional. Os superdotados costumam ser seres solitários e uma grande parte deles não tem sucesso na vida, ao contrário...

As crianças podem brincar com qualquer coisa, até com as suas panelas. E, na minha pequena experiência de mãe de dois, vejo que o melhor estímulo que uma criança pode ter é outra criança da mesma idade ou, ainda melhor, um pouco mais velha. Um brinquedo oferece um estímulo limitado: paga-se caro por ele, a criança enjoa e, depois de alguns minutos, o joga no canto. Já um irmão ou um amiguinho é um desafio constante a ser seguido, e isso contribui muito mais para o seu desenvolvimento mental e emocional do que qualquer brinquedo pois, além de estimular a inteligência racional, ativa a sua inteligência emocional, a capacidade de se relacionar bem com os seus semelhantes e esta sim leva ao sucesso certo. Pensemos nisso na próxima vez em que formos comprar algo; não seria melhor ligar para um amiguinho e levá-lo para brincar com ele?

Um abraço,

Adri